ENTREVISTA: NGA - "A MINHA MÚSICA REFLETE A MINHA VIDA"
Foi num dia de sol na margem do rio Tejo que o My Sound Magazine esteve à conversa com dois artistas do rap português, NGA que já é um verdadeiro sucesso nacional e Prodígio que sempre o acompanha nos espetáculos. Ambos darão um concerto dia 30 de Março no espaço TMN ao Vivo.
My Sound: O rap começou, em Portugal, em meados dos anos 90 que foi precisamente quando tu vieste de Angola. Como surgiu o Rap e o NGA na tua vida?
NGA: Pelo que sei o Rap começou nos anos 80, nos anos 90 foi quando houve aquele boom, aquela expansão um bocado maior com os Zona Dread e outros, eu quando cheguei cá, vim de Angola com a minha mãe e com a minha irmã, e não te sei dizer porquê, quando eu ouvi além dos putos de bairro a Black Company apaixonei-me logo, o poder das palavras, o ritmo. Não te sei dizer porquê, eu não tinha irmãos mais velhos (…) então foi um primo meu que veio da Alemanha, trouxe umas cassetes, e eu identifiquei-me logo, apaixonei-me logo, mesmo coisas que eu vivia na altura…e pronto fazia-me companhia. Os Black Company são irmãos que eu tenho hoje, são os irmãos mais velhos que eu nunca tive e que entendia, eu não os conhecia, eles não me conheciam mas a gente entendia-se bem.
My Sound: O rap começou, em Portugal, em meados dos anos 90 que foi precisamente quando tu vieste de Angola. Como surgiu o Rap e o NGA na tua vida?
NGA: Pelo que sei o Rap começou nos anos 80, nos anos 90 foi quando houve aquele boom, aquela expansão um bocado maior com os Zona Dread e outros, eu quando cheguei cá, vim de Angola com a minha mãe e com a minha irmã, e não te sei dizer porquê, quando eu ouvi além dos putos de bairro a Black Company apaixonei-me logo, o poder das palavras, o ritmo. Não te sei dizer porquê, eu não tinha irmãos mais velhos (…) então foi um primo meu que veio da Alemanha, trouxe umas cassetes, e eu identifiquei-me logo, apaixonei-me logo, mesmo coisas que eu vivia na altura…e pronto fazia-me companhia. Os Black Company são irmãos que eu tenho hoje, são os irmãos mais velhos que eu nunca tive e que entendia, eu não os conhecia, eles não me conheciam mas a gente entendia-se bem.
MS: Boss AC é uma das referências em muitos dos teus sons. Como justificas essa grande influência?
NGA: Quando eu ouvi Boss AC foi no álbum dos Black Company, o “Filho das Ruas”, que eu disse, apesar de ser ainda muito novo, tinha uns 14, 13, 12 anos por aí…é muito bom, muito bom! As palavras, o ritmo, na altura o AC já gravava fora então as músicas já tinham aquela qualidade (…) e ele era o melhor professor que havia, o AC dava-te um pouco de crioulo, um bocado de inglês, uma ou outra palavra de francês, espanhol, mas sempre a engrandecer o que é feito em português. Eu sou muito fã de português, sou muito fã de ouvir as palavras. Depois eu queria vestir como ele, as calças abaixo do rabo como ele (…), então eu queria ser como ele.
MS: Aqui em Portugal, e no mundo, o rap surgiu como forma de denúncia das desigualdades sociais. Hoje em dia, sendo tu um dos mais conhecidos rappers portugueses, preocupaste em passar mensagens sociais para quem ouve as tuas músicas?
NGA: Isso é o que muita gente diz (…) o rap sempre tocou num bocado de tudo, música nunca é levada a preto e branco, tem que ser cinzento, dá para dançar, dá para chorar, dá para falar dos problemas, então, acho que as pessoas mais tristes é que meteram essa conotação de que Rap é intervenção, também, mas não é só, é liberdade (…) há muitas bandas de Rock que tocam nesses podres, o Reggae também toca muito, às vezes mais que o rap. O rap tem as suas fases (…). A minha música é um desabafo, eu meto aquilo que estiver a passar na minha cabeça, aquilo que eu estiver a sentir é aquilo que eu vou escrever. A minha música reflete a minha vida, eu não passo a vida a falar dos problemas dos outros, para mim não dá meter-me onde não sou chamado, eu vou falar daquilo que eu vejo, que eu sinto, que eu faço, e do meu meio, as pessoas que me são próximas, isso e as coisas boas, porque ninguém é só uma coisa.
MS: Foste viver para a Linha de Sintra por necessidade. Hoje em dia não existindo essa necessidade nunca pensaste em sair?
NGA: Não há como, criei raízes lá, os meus filhos nasceram lá, os amigos, as coisas boas e más, sinto-me em casa. Portugal é um pé em Africa e um pé na Europa, se a gente for para o Luxemburgo, vamos sentir uma diferença muito grande, se formos para a Angola também. Eu gosta da mistura de Portugal, gosto de ir ao restaurante chinês, gosto de ir ao indiano, gosto de ir ao meu amigo brazuca, gosto dessa mistura e ali na linha tenho isso, tem os seus problemas mas não sei onde não os há, não é tão grave como muita gente pensa. E gosto de estar perto do meu people, aqui em Lisboa as pessoas não se conhecem, parece que estão num labirinto, eu entendo, é o trabalho, é a vida, Ali na linha a gente se conhece nem que seja de vista. Quando eu sair dali da linha tenho que sair para uma banda assim tipo Cascais quando Deus me abençoar e eu conseguir uma vivenda (risos).
MS: E não pensas regressar à Angola? Talvez apenas em trabalho?
NGA: O álbum que vou apresentar agora saiu em Luanda em Novembro, temos ido constantemente, mas eu não gosto de sair de casa se não for em trabalho, Eu não quero ir viajar para visitar alguém, quero ter um show e aproveitar, porque assim sinto que o meu trabalho é que me levou lá, seja Angola ou qualquer outro país.
MS: Para ti é importante que a tua música seja reconhecida nos teus concertos. Achas que o mal da pirataria, para quem sempre ofereceu mixtapes, é um mal menor?
NGA: Não não! é estar a lutar contra o inevitável, é “rimar”, como o AC diz, “rimar contra a maré" (…) a mim ajudou-me, eu existo como artista graças à pirataria, graças à internet, aos blogs. Eu sou a favor, a ultima mixtape que eu mostrei para vocês, com o Dj Smallz que é um Dj que tem o seu peso nos Estados Unidos, é muito grande, eu meti para venda nas Fnacs e pagou-me o dobro. Se tu sentires que esses 5 ou 10 euros que tens que gastar porque aquilo vem com o bookzinho…mas também se só queres ouvir…o importante é que tu conheças e passes ao teu people, assim a coisa vai-se mantendo, depois a gente vai sempre buscar um bocadinho de shows.
MS: Já atuaste em muitos palcos nacionais. A tua música passa na Europa, Brasil, Angola, um pouco por todo o mundo. Onde gostavas de atuar?
NGA: Eu sou muito viciado em Portugal. Na semana passada estivemos em Castelo Branco, dá-me mais pica do que ir não sei onde… é um privilégio. A realidade é eu sou preto, africano e faço rap em português (…) eu nem sou português mas eu represento Portugal na música. Eu estive em Angola no show da Lusofonia e eu era o representante de Portugal, não de Angola. É um grande feeling quando um gajo tipo eu ali da linha de Sintra vai para Castelo Branco, Braga, onde tu quiseres, e tem lá aquele people… epah é um grande feeling. Se esse espaço aí [espaço TMN ao Vivo] estiver cheio e correr bem é bacano mas não fico tão surpreendido, mas se isso acontecer lá (em outras cidades) aí sim é brutal! Então é isso que me alimenta, eu gosto de palcos grandes, é uma energia que eu sinto, mas o que me alimenta é essa dificuldade, quando o próprio dono da casa te diz “epah aqui normalmente é mais ou menos”, e depois no fim da noite “epah vem cá beber uma comigo, gostei muito!”, e isso é bom para mim, para a minha família, é bom para o rap, é bom para os jovens, é bom para quem está a lutar na música… A minha cena não é muito os lugares, são as pessoas. É tudo igual, o mundo é todo mais ou menos a mesma coisa.
MS: O teu Facebook tem 32000 likes. Tens um video no Youtube com mais de um milhão de views. A referência das redes sociais é importante para ti?
NGA: Se não fossem elas eu não estava aqui agora. Elas são a minha promotora, editora, distribuidora, preciso mesmo delas na minha vida (risos).
MS: Qual seria o conselho que davas a todos aqueles que começam hoje no rap em Portugal?
NGA: Serem humildes, trabalhadores, têm que fazer três vezes mais que o outro irmão. Se aquele mano hoje foi dormir à meia-noite porque estava cansado, tu tens que ir às quatro da manhã, ele vai acordar às sete, tu vais acordar às seis, é assim que se consegue, com trabalho, humildade e com muita garra. É preciso saber o que se quer.
MS: Agora uma pergunta para o Prodígio. Qual será o teu contributo para o concerto que irá decorrer no espaço TMN ao Vivo dia 30 deste mês?
Prodígio: Os nossos fãs provavelmente sabem que sempre que ouvem o NGA eu estou lá por trás. Mesmo que no flyer esteja só NGA eu também estou no show. Os fãs têm mais ou menos noção disso, então no dia 30, para quem já viu Prodígio sabe mais ou menos, mas para quem ainda não viu, muita energia, preparem-se para saltar que eu sou muito agitado como pessoa, não me sei conter pelo menos no palco. A gente vai curtir, vai ser um bom show.
MS: O gosto pela música corre-vos nas veias, vocês pensam fazer isto durante muitos anos da vossa vida?
NGA: Não! Só até ao Verão (risos). Se Deus quiser e me der saúde para isso…não me vejo a fazer nada…não vale a pena inventar. Eu não tenho calos! (risos)
Prodígio: Não existe nada para o qual a gente tenha tanto
jeito…uma coisa que os nossos fãs estão-nos sempre a dizer é “não
parem!”, e eu queria que eles soubessem que enquanto eles existirem
estamos aqui, por isso quem não deve parar são eles.
MS: Vocês fazem a música para vocês ou para os vossos fãs?
NGA: Eu faço música para mim…É sempre um desabafo, é uma cena para mim, se tu te identificares bacano, se não tudo bem na mesma.
Prodígio: A minha resposta é mais ou menos a mesma. Eu nem sequer
penso, é como o NGA diz, são pensamentos e coisas que se passam na
minha vida, as pessoas gostam e eu acho que gostam por causa disso. No
momento em que eu começar a pensar acho que as pessoas não vão gostar
tanto, acho eu, soa mais original e diferente porque acredito que
ninguém é igual a mim.
Entrevista: Melanie Rouxinol Silva
Fotografia: Pedro Figueiredo
Entrevista: Melanie Rouxinol Silva
Fotografia: Pedro Figueiredo
Fonte:http://www.mysound-mag.com
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